9 – Técnicas de narração

Narração:

A narração está vinculada à nossa vida, pois sempre temos algo a contar.

Narrar é relatar fatos e acontecimentos, reais ou fictícios, vividos por indivíduos, envolvendo ação e movimento.

A narrativa impõe certas normas:

* o facto: que deve ter sequência ordenada; a sucessão de tais sequências recebe o nome de enredo, trama ou acção;

* a personagem

* o ambiente: o lugar onde ocorreu o facto;

* o momento: o tempo da acção.

Em qualquer narrativa estarão sempre presentes o fato e a personagem, sem os quais não há narração.
Na composição narrativa, o enredo gira em torno de um fato acontecido. Toda história tem um cenário onde se desenvolve. Desta forma, ao enfocarmos a trama, o enredo, teremos, obrigatoriamente, de fazer descrições para caracterizar tal cenário. Assim, acrescentamos: narração também envolve descrição.

Narração na 1ª Pessoa

A narração na 1ª pessoa ocorre quando o fato é contado por um participante, isto é; alguém que se envolva nos acontecimentos ao mesmo tempo em que conta o caso.
A narração na 1ª pessoa torna o texto muito comunicativo porque o próprio narrador conta o fato e assim o texto ganha o tom de conversa amiga.
Além disso, esse tipo de narração é muito comum na conversa diária, quando o sujeito conta um fato do qual ele também é participante.

Narração na 3ª Pessoa

O narrador conta a ação do ponto de vista de quem vê o fato acontecer na sua frente. Entretanto o contador do caso não participa da ação. Observar: “Era uma vez um boiadeiro lá no sertão, que tinha cara de bobo e fumaças de esperto. Um dia veio a Curitiba gastar os cobres de uma boiada”.
Você percebeu que os verbos estão na 3ª pessoa e que o narrador conta o caso sem dele participar. O narrador sabe de tudo o que acontece na estória e por isso recebe o nome de narrado onisciente. Observe: “No hotel pediu um quarto, onde se fechou para contar o dinheiro.Só encontrou aquela nota de cem reais. O resto era papel e jornal…”
Você percebeu que o boiadeiro está só, fechado no quarto. Mas o narrador é onisciente e conto o que a personagem está fazendo.

Interpretação:

Interpretação é uma ação que consiste em estabelecer, simultânea ou consecutivamente, comunicação verbal ou não verbal entre duas entidades que não usem o mesmo código. É um termo ambíguo, tanto podendo referir-se ao processo quanto ao seu resultado – isto é, por exemplo, tanto ao conjunto de processos mentais que ocorrem num leitor quando interpreta um texto, quanto aos comentários que este poderá tecer depois de ter lido o texto. Pode, portanto, consistir na descoberta do sentido e significado de algo – geralmente, fruto da acção humana.

Estrutura da narração:

A acção da narrativa é constituída por três acções: Intriga, Acção principal e Acção secundária.

* Intriga;

* Acção principal;

* Acção secúndária.

A intriga é uma acção considerada como um conjunto de acontecimentos que se sucedem, segundo um princípio de casualidade, com vista a um desenlace. A intriga é uma acção fechada.

A acção principal é uma acção que integra o conjunto de sequências narrativas que detêm maior importância ou relevo.

A acção secundária tem a sua importância define-se em relação à principal, de que depende, por vezes; relata acontecimentos de menor relevo.

Enredo:

Enredo é o encadeado de acções executadas ou a executar pelas personagens numa ficção, a fim de criar sentido ou emoção no espectador.

O enredo, ou trama, ou intriga, é, podemos dizer, o esqueleto da narrativa, aquilo que dá sustentação à história, ou seja, é o desenrolar dos acontecimentos.

É, também, um relato de fatos vividos por personagens e ordenados em uma seqüência lógica e temporal, por isso ele se caracteriza pelo emprego de verbos de ação que indicam a movimentação das personagens no tempo e no espaço. Geralmente, o enredo está centrado num conflito, responsável pelo nível de tensão da narrativa.

O enredo pode ser organizado de várias formas:

* Situação inicial: os personagens e espaço são apresentados.

* Quebra da Situação Inicial: um acontecimento modifica a situação apresentada.

* Estabelecimento de Um Conflito: surge uma situação a ser resolvida, que quebra a estabilidade de personagens e acontecimentos.

* Clímax: ponto de maior tensão narrativa.

* Epílogo: solução do conflito.

 

 

(Personagens do Filme Obélix e Asterix)

Narrador:

O narrador é a entidade que conta uma história. É uma das três pessoas em uma história, sendo os outros o autor e o leitor/espectador. O leitor e o autor habitam o mundo real. É função do autor criar um mundo alternativo, com personagens e cenários e eventos que formem a história. É função do leitor entender e interpretar a história. Já o narrador existe no mundo da história e aparece de uma forma que o leitor possa compreendê-lo.

Uma boa história deve ter um narrador bem definido e consciente. Para este fim há diversas regras que governam o narrador. Esta entidade, com atribuições e limitação, não pode comunicar nada que não conheça, ou seja, só pode contar a história a partir do que vê. A isso se chama foco narrativo.

Guião:

Há duas convenções do ponto de vista formal que é costume seguir durante a redacção das primeiras etapas da redacção do guião e que são as seguintes:

* Primeira pessoa do plural

A utilização da primeira pessoa do plural, o “nós”, funciona de forma a dirigir-se a todos os elementos da equipa, realizador, operadores, etc. Ex: “Seguimos a personagem X” ou “Fazemos uma panorâmica de Y”

* Tempo presente

Todas as sinopses, sequências, tratamentos e guiões devem ser escritos no presente. Esta convenção trata-se dum reflexo da natureza básica do meio. Com efeito, em qualquer meio audiovisual existe única e exclusivamente o presente. Mesmo quando existem prolepses e analepses, essa fracção de segundo em que se modifica a matriz do tempo é rapidamente adaptada ao tempo presente pelo espectador.

 

A Adaptação Literária para Cinema e Televisão:

Transposição da literatura para a linguagem audiovisual. Vou comentar o assunto sob dois pontos de vista: o primeiro, técnico ou estético. O segundo, ético. Quanto aos aspectos estéticos, há muitas diferenças entre a linguagem escrita e a linguagem audiovisual. Eu vou tentar lembrar aqui três dessas diferenças. 
A primeira e mais evidente diferença é que na linguagem audiovisual toda a informação deve ser visível ou audível. Isto parece uma obviedade ululante mas quem já tentou fazer um roteiro sabe como é difícil evitar a tentação de escrever: João acorda e lembra de Maria. Isso é muito fácil escrever e muito difícil de filmar. Palavras como pensa, lembra, esquece, sente, quer ou percebe, presentes em qualquer romance, são proibidas para o roteirista, que só pode escrever o que é visível. A literatura, que a todo momento nos remete ao fluxo de consciência dos personagens, pode utilizar todas essas palavras. Mas não necessariamente precisa utilizar todas essas palavras, o que faz com que alguns textos sejam muito mais facilmente adaptáveis do que outros. 
A segunda diferença fundamental, e que também diz respeito à natureza dessas linguagens, pode ser analisada a partir de uma frase de Umberto Eco: “toda a narrativa se apóia parasiticamente no conhecimento prévio que o leitor tem da realidade”. A metamorfose de Kafka começa com a seguinte frase: “Ao despertar após uma noite de sonhos agitados Gregor Samsa encontrou-se em sua própria cama transformado num inseto gigantesco”. Esta frase, talvez a melhor primeira frase da história do romance, disse tudo que é preciso saber para que a história comece. Cada um de nós, leitor, imaginou a sua própria cena, o escritor nos informa apenas aquilo que ele julga ser necessário, o leitor imagina todo o resto.

Sinopse:

A sinopse, também denominada story-line, deve ter até 5 páginas.

Em primeiro lugar o autor redige um texto que indica muito sumariamente os elementos fundamentais da história bem como a sua forma (documentário, ficção, publicidade, videoclip, programa de formação, de divulgação, científico… ou ainda no caso multimédia, um jogo educativo, um programa de ensino assistido por computador, uma demonstração…). Esta sinopse é de certo modo o cartão de visita do futuro produto e serve para serem tomadas as decisões fundamentais relativas à produção.

Deverá ter os seguintes elementos:

* TEMA (veja-se a título de exemplo a apresentação de um filme numa revista de programação de TV).

* ESTRUTURA DA NARRATIVA (tem como sequência a apresentação, o desenvolvimento e o desfecho).

* CENÁRIOS E PERSONAGENS (noções fundamentais).

A sinopse ou story-line (para lhe dar uma noção genérica) tem entre 3 a 10 páginas numa grande metragem de cinema, e entre 5 a 20 linhas num programa de formação ou de divulgação.

Guião por cenas:

Habitualmente, o guião dos filmes realizados profissionalmente é elaborado através das diferentes fases,a que passo a enumerar. Acontece por vezes que algumas destas fases seja anulada; outras vezes, pode suceder também que se façam várias tentativa em apenas uma delas.

Para cada uma das fases, faz-se arbitrariamente  menção a um certo número de páginas, claro que estes números devem ser apenas tomados como orientação e não como regra geral.

O guião literário (ou tratamento da sinopse ou, ainda, argumento cinematográfico)

Trata-se de uma exposição mais vasta do tema, semelhante à forma de um conto. Quando for necessário o diálogo para que progrida o entrecho ou para dar a conhecer facetas de uma determinada personagem, o texto é mencionado entre aspas, como na literatura, e não se separa, como acontece na peça de teatro ou no guião cinematográfico.

A sequência:

Esta é a fase, consciente ou subconsciente, mais evitada pelo autor literário, que não tem qualquer tipo de expriência no cinema, e isto acontece devido ao facto de esta exigência ser raras as vezes expressa no contrato. Trata-se de uma tentativa relativamente antecipada de fazer uma lista de cenas que hão-de compor o filme, acompanhada de uma descrição sumária da acção que se vai desenvolver, prescindindo do diálogo ou de qualquer forma de embelezamento, tendo como objectivo descobrir, criar ou obter uma ideia aproximada do que vão ser os efeitos visuais produzidos ao longo do trabalho, mais do que os literários.

Este exercício é extremamente valioso e – caso se disponha de tempo e de talento – pode ser melhorado e realçado através de esboços que ilustrem algumas das sequências da filmagem e suas transições.

A sequência literária:

Trata-se de uma exposição ainda mais completa do que a traçada no guião literário e que se desenvolve geralmente depois da sequência.

Algumas vezes estas duas fases estão amalgamadas. Como alternativa, é provável que faça simplesmente parte do processo pelo qual se passa da sequência à sequência dialogada. Será ou não uma fase determinada por contrato, e por isso, pode ter que ser realizada dentro de um determinado lapso de tempo.

A sequência dialogada:

É habitualmente a maior contribuição do autor que não se dedica ao cinema. Muitas vezes, tem diálogo excessivo, muita descrição e um grande número de repetições, a maioria das quais servirá apenas como indicações ou sugestões para o realizador, e nunca como partes do guião definitivo. O desenvolvimento posterior será extraido ou moldado a partir do materila que se venha a obter  nesta etapa.

O guião por cenas ou por sequências:

Qualquer que seja  o grau em que o realizador haja estado implicado nas cinco primeiras fases da preparação do guião, é fundamental e necessário que que tenha consciência do papel decisivo que lhe compete desempenhar nesta etapa e nas subsequentes. Consiste basicamente em converter a sequência  dialogada em algo bastante semelhante ao plano geral. A cenas principais são unidades de acção autónomas, um pouco como nas cenas de Shakespeare, mas, quanto à duração, esta poderá abranger um par de segundos, 10 minutos, ou ainda mais.

Nesta fase, ainda não se dividem as cenas em grandes planos, planos longos, etc. O guião por cenas pode servir inicialmente como documento de trabalho para as fases iniciais de casting, concepção de produção, calendarização (desde que não tenha sido imposta previamente), e na orçamentação.

Gravação de uma das cenas de um filme.

A planificação ou pré-planificação:

A partir da fase anterior, a planificação dependerá exclusivamente do método de trabalho do realizador. É provável que alguns comecem por dividir cada cena em todos os planos concebíveis e cheguem assim à primeira tentativa do plano de montagem. Outros, simplesmente, dedicam-se a refinar e aperfeiçoar o guião por cenas ou sequências, sem o dividir em planos.

Em princípio, esta planificação ou esboço é mais propriamente um processo  doq ue uma fase definitiva da planificação; é provável que se exija um texto escrito à máquina. Assim, não será mais que uma espécie de «cópia de montagem» em papel, comparável a uma «primeira montagem» ou mesmo à «montagem final».

 

 

O guião técnico ou planificação técnica:

O título explica-se a si próprio. Acrescente-se que, devido a pressões externas ou a novas «inspirações» da parte dos realizadores, pode haver várias versões finais. Mesmo quando já e iniciou a filmagem, muitas vezes ainda se fazem modificações. Uma medida habitual consiste em tomar nota num papel de cor diferente das novas correcções que vão sendo feitas, o que conduz frequentemente a que os guiões se assemelhem a um arco.íris uma vez terminada a filmagem.

O ideal seria que este guião definitivo da filmagem fosse a versão policopiada para a totalidade do filme e que fosse ampliado através de séries de desenhos de referência de forma contínua (storyboard) definindo a composição de cada plano.

Alguns realizadores, pelo contrário, não podem – ou não querem – trabalhar desta forma.

Ao jovem realizador, no entanto aconselha-se que pondere seriamente todas as possibilidades antes de prescindir da planificação ou d etoda a série de desenhos que possam acompanhá-la. Deve ver todos estes elementos não como barras de uma prisão, mas como ferramentas que lhe premitirão improvisar e aproveitar todas as oportunidades de última hora sem perder o fluxo do filme.

Guião técnico:

O guião técnico apresenta indicações referentes à câmara, à iluminação, ao som, aos adereços, à planificação das cenas etc. Assim sendo, há uma série de elementos envolvidos e que passamos a descrever:

O Produtor, o Produtor Executivo, o Realizador, o Assistente de realização, a Anotadora, o Director de Fotografia, o Operador de Câmara, o Assistente de Câmara, o Chefe-Maquinista, o Chefe-Electricista (Iluminador), o Cenografista/Aderecista, o Operador de Audio.

O Guião Técnico é constituído pela especificação de conteúdos e elementos gráficos do produto, correspondendo a uma maqueta ou visão geral deste que é resultante do trabalho das fases anteriores. Cabe ao realizador “traduzir” em imagens e sons todo esse trabalho.

Para isso, existem múltiplas formas gráficas de planificar o trabalho, conforme o tipo de exigência da produção. Ainda que se deva ter cuidado em evitar os estereótipos há, no entanto, algumas regras básicas que devem ser seguidas na elaboração de um Guião Técnico:

O título da obra, o nome do realizador, o nº de ordem da folha, o Local da acção, o nº de Cena e/ou Sequência, se é em Interior ou Exterior, se é Dia ou Noite, a Acção, o tipo de planos e os movimentos de câmara, o nº de Take, o nº de Vez (um Take pode ter que ser repetido mais de uma vez), e os Diálogos.
É evidente que os números de Vez são para serem escritos durante as filmagens porque, à partida, ninguém poderá adivinhar quantas vezes o mesmo Take terá de ser repetido.
Os gravadores de vídeo profissionais registam na fita magnética um número sequencial a que se chama Time Code.
Este número é de grande utilidade, principalmente na fase de montagem do videograma, porque nos permite identificar, rapidamente, a imagem pretendida. Embora ele esteja registado na fita, pode, ou não, ficar visível, conforme a nossa opção.










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